O “x” e o “@” não são a solução: Sistema Elu e Linguagem Neutra em Género

Pedro Valente (ele)
19 min readApr 13, 2020
Conjunto de pessoas de características sexuais, expressões de género e tons de pele diferentes comunica, surgindo balões de fala.
Conjunto de pessoas comunica, surgindo balões de fala. | iStock by Getty Images

É essencial para uma sociedade inclusiva a existência de um sistema de linguagem neutra em género para referir-se às pessoas sem determinar um género: sendo este especialmente importante para as pessoas não-binárias (que não se identificam como mulheres ou homens), essas excluídas pelo género gramatical atualmente estabelecido na língua portuguesa.

O uso de “x” ou “@” para neutralizar o género de palavras com flexão de género (por exemplo: “todxs” ou “el@s”) funciona na escrita, porém falha na leitura, oralidade e audição. Por esta razão um sistema de linguagem neutra em género é necessário. Além de que a substituição por “x” ou “@” discrimina pessoas com deficiência visual, pela falta de reconhecimento dos programas de leitura através de som, assim como pessoas disléxicas, ao não dar acessibilidade. Sendo assim excludente.

Antes de entrar no campo de adições à língua ainda não-reconhecidas oficialmente, apresentasse-à formas de atingir uma linguagem neutra em género a partir dos recursos já reconhecidos na gramática normativa.

Alteração de frases.

Um método de não identificar o género como feminino ou masculino é reformular as frases usando palavras diferentes. Reorganizando-as ou reescrevendo-as de outra maneira. Porém, esse método funciona melhor na linguagem escrita formal (elaborada), do que na linguagem falada quotidiana, porque nos comunicamos de modo informal. É razoável considerar isso ao desenvolver textos ou discursos.

Use coletivos neutros como: “pessoal”, “grupo”, “corpo”, “público”, “gente”, “comunidade”, “humanidade”, “sociedade”, etc.

Exemplos:

  • Os moradores se uniram. → A comunidade se uniu.
  • Boa tarde a todos. → Boa tarde, grupo.
  • Conta para todos eles. → Conta para todas as pessoas.
  • Os professores estão na reunião. → O corpo docente está em reunião.
  • Senhoras e senhores! → Respeitável público!
  • Meninos e meninas! → Crianças!
  • Quem são estes? → Que pessoal é este?
  • Os humanos fazem isso. → A humanidade faz isso.
  • Reunião de pais. → Reunião de famílias/responsáveis.

Use substantivos uniformes “sobrecomuns” (de apenas um género) como: “pessoa”, “indivíduo”, “ser”, “criatura”, “criança”, “contacto”, “sujeito”, “celebridade”, “vítima”, “estrela”, “membro”, etc.

Exemplos:

  • Ela partiu. → A pessoa partiu.
  • Que menino mais lindo. → Que criança mais linda.
  • A tua namorada. → A pessoa que namoras.
  • Aqueles que terminaram podem sair. → As pessoas que terminaram podem sair.
  • Aquela minha parceira me chamou. → Aquela minha parceria me chamou.

Use substantivos uniformes “comuns de dois géneros” (sem o uso de artigos e complementos) como: “jovem”, “colega”, “estudante”, “artista”, “cliente”, “líder”, “acompanhante”, “residente”, “amante”, “visitante”, “integrante”, “habitante”, etc.

“Comuns de dois géneros” são aqueles termos “uniformes” que apresentam a mesma forma para o género masculino e feminino, porém a distinção de género é feita através de artigos e complementos. Por exemplo: “a jovem”, “o jovem”, “jovem linda”, “jovem lindo”.

Obs.: Para alguns termos, a nomenclatura “dois géneros” na gramática, pode no futuro ser atualizada para “três géneros” (feminino, masculino, neutro). Com exceção de alguns termos “heterossêmicos” (palavras que possuem um significado no género feminino e outro diferente no masculino), como: “a rádio”, “o rádio”, etc.

Exemplos:

  • Nós somos alunos de teatro. → Nós somos estudantes de teatro.
  • As cantoras agradeceram os aplausos. → Os aplausos foram denunciados por artistas.
  • Meninas, lembrem-se disto! → Jovens, lembrem-se disto!
  • Vêm sozinho. → Não tragas acompanhantes!
  • A associação apoiou os moradores da região. → Residentes da região receberam apoio da associação.

Use pronomes indefinidos (sem o uso de adjetivos) como: “alguém”, “ninguém”, “outrem”, “quem”, etc.

Exemplos:

  • Ele partiu. → Alguém partiu.
  • O teu namorado. → Quem tu namoras.
  • Aquelas que terminaram podem sair. → Quem terminou pode sair.
  • Não encontrei elas. → Encontrei ninguém.

Use adjetivos que não tem género, como: “abundante”, “acessível”, “aderente”, “alegre”, “amável”, “amigável”, “apaixonante”, “atraente”, “brilhante”, “confiante”, “confiável”, “contagiante”, “contente”, “eficaz”, “elegante”, “espetacular”, “estimulante”, “excelente”, “exigente”, “feliz”, “frágil”, “gentil”, “incrível”, “inesquecível”, “influente”, “inocente”, “semelhante”, “surpreendente”, “valente”, “veloz”, “ausente”, “carente”, “indesejável”, “indisponível”, “temível”, “terrível”, “triste”, etc.

Exemplos:

  • Eu não sou fraca. → Eu sou forte.
  • Nós estamos animados com a festa. → Nós estamos felizes com a festa.
  • Sejam cuidadosos. → Sejam responsáveis.
  • Tu és mentiroso. → Tu não és confiável.

Elimine artigos e pronomes.

Exemplos:

  • O Raul foi ao Bolhão com a Sónia. → Raul foi ao Bolhão com Sónia.
  • Logo, ele explicará os seus motivos. → Logo, explicará-se os seus motivos.

Use voz passiva, gerúndio e faça outras mudanças na estrutura das frases.

Exemplos:

  • Estás todo molhado. → Molhaste-te completamente.
  • És bióloga? → Formaste-te em biologia? / Trabalhas com biologia?
  • Estás registada. → Registaram-te. / O teu registo foi feito.
  • Eu estou cansada disto. → Eu cansei-me disto.
  • Estou preocupado com isto. → Isto está me a preocupar.
  • Obrigada pelo aviso. → Agradeço o aviso.
  • Bem-vindos! → Boas-vindas!
  • Tu és linda. → Tu és uma lindeza.
  • Tragam as vossas esposas ou os vossos maridos. → Tragam companhia. / Tragam acompanhantes.
  • Não fiquem nervosos! → Não fiquem com nervosismo!
  • Nós estávamos calados. → Nós estávamos em silêncio.
  • Quem são os nossos representantes? → Quem nos representa? / Quais são as pessoas que nos representam?

Substituição das contrações (preposição + artigo) “à(s)” e “ao(s)” por “a” (ao se referir a uma pessoa singular).

Exemplos:

* Viva ao José! → Viva a José!

Substituição das contrações (preposição + artigo) “pela(s)” e “pelo(s)” por “por” ou “através de”.

Exemplos:

* Descobri isso pela Rafa. → Descobri isso através de Rafa.

* Pelo Duarte eu faço de tudo. → Por Duarte eu faço de tudo.

Posto as alternativas já reconhecidos na língua, entra-se agora no “Sistema Elu”.

Não importa o que a gramática normativa diz, a língua é construída e altera-se mediante a necessidade humana. A língua não surgiu com o primeiro manual de gramática, pertence ao mundo social.

Pedro Valente, em Linguagem inclusiva e/ou neutra: o que está em causa? para a revista Gerador (2022).

O “Sistema Elu” pretende ser um conjunto de propostas sobre como referir-se, na língua portuguesa, às pessoas não-binárias ou cujo género é desconhecido ou indeterminado, assim como a grupos com diferentes géneros, sem recorrer ao uso do “masculino genérico”. Em outros contextos tal linguagem não é aplicável.

Desde que aprendemos o idioma escrevemos, lemos, falamos e ouvimos tudo no feminino ou masculino, pela sua construção ter sido assim feita. Então, é natural que seja difícil se comunicar dessa forma no início: dificuldade essa que diminuirá através do uso e treino. Aproveite quando não sabe o género de alguém, ou se refere a um grupo com pessoas de diferentes géneros, para usar esta linguagem.

O sistema já foi citado em várias publicações, como o Diário de Notícias, a revista Gerador e o jornal Público, é utilizado, entre outras, pela associação portuguesa rede ex aequo, foi aprovado para uso académico na Universidade de Buenos Aires, e é usado diariamente por várias pessoas.

Ao contrário do que se possa pensar, o “Sistema Elu”, exatamente por não marcar um género, pode ser usado por e para qualquer pessoa, independentemente da sua identidade de género, não sendo assim exclusivo das pessoas não-binárias (nem obrigação delas usar este para si mesmas). Estas normas aplicam-se a pessoas, logo o tratamento para objetos permanece igual.

Exemplo: “A minha bicicleta é esta. Ela é roxa”.

SISTEMA ELU.

(Elu, delu, nelu, aquelu).

O pronome “elu” pretende representar, e incluir, na língua portuguesa as pessoas não-binárias ou cujo género é desconhecido ou indeterminado, assim como grupos com diferentes géneros, sem recorrer ao uso do “masculino genérico”. Equivale aos pronomes “ela” e “ele” existentes no idioma, mas neutro em género.

O “Sistema Elu” é a melhor adaptação desenvolvida de neutralidade de género na lingua. Este é o que apresenta menos problemas na sua adaptação: ao funcionar perfeitamente na fala, escuta, escrita e leitura. Além de gerar menos estranhamento, já que o seu foco é a inclusão, e não o distanciamento e a desmotivação.

Sendo provavelmente a primeira vez que entra em contacto de forma ampla com este conteúdo, é importante que você leia não apenas as regras gramaticais, mas também as listas de exemplos para se acostumar e familiarizar com as formas, até que elas deixem de parecer estranhas ao serem usadas.

A maioria das palavras passa por “flexão de género”: o movimento que altera uma palavra mediante o género.

Como dito, nem todas as palavras possuem esse tipo de flexão. Por exemplo a palavra “pessoa”, é de género gramatical feminino, porém não altera mediante o género de quem é aplicada.

Esta alteração de género ocorre quando se troca a desinência nominal das palavras, sendo esse o nome das letras que ficam na parte final dessas palavras. Essa trata e indica especialmente o género.

Um exemplo, são aquelas vogais “-a” ou “-o”, que estão no final (menin-A, menin-O).

Além dessas vogais, existem também outros tipos mais elaborados de desinências nominais, e que variam quando as palavras estão no singular e plural.

Segue assim o guia de funcionamento do “Sistema Elu”.

Substituição dos pronomes pessoais “ela(s)” ou “ele(s)” pelo pronome neutro “elu(s)”.

Pronomes e contrações: elu, elus, delu, delus, nelu, nelus, aquelu e aquelus.

Pronuncia-se “êlu”, porém, a palavra deve ser gravada sem acentuação gráfica.

Exemplos:

* Ela é muito fixe. → Elu é muito fixe.

* Eles são colegas. → Elus são colegas.

Substituição das contrações (preposição + pronome) “dela(s)” ou “dele(s)” por “delu(s)”.

Pronuncia-se como “dêlu”, semelhantemente ao pronome “elu”.

Exemplos:

* Alguém arranhou o braço dela. → Alguém arranhou o braço delu.

* Os olhos dele são castanhos. → Os olhos delu são castanhos.

Substituição das contrações (preposição + pronome) “nela(s)” ou “nele(s)” por “nelu(s)”.

Pronuncia-se como “nêlu”, semelhantemente ao pronome “elu”.

Exemplos:

* Eu estava a pensar nele de manhã. → Eu estava a pensar nelu de manhã.

* Eu dei um beijo nele. → Eu dei um beijo nelu.

Substituição dos pronomes demonstrativos “aquela(s)” ou “aquele(s)” pelo pronome neutro “aquelu(s)”.

Pronuncia-se como “aquêlu”, semelhantemente ao pronome “elu”.

Exemplos:

* Aquela jovem é interessante. → Aquelu jovem é interessante.

* Aquela jovem ensinou-me isto. → Aquelu jovem ensinou-me isto.

Quando a palavra termina em “-o” no masculino ou “-a” no feminino, substitui a desinência por “-e”.

Exemplos:

* Menino/a. → Menine.

* Todos/as. → Todes.

* Esperto/a. → Esperte.

* Obrigado/a. → Obrigade.

Quando a palavra termina em “-co” no masculino e “-ca” no feminino, substitui a desinência por “-que”.

Exemplos:

* Médico/a. → Médique.

* Autêntico/a. → Autêntique.

Quando a palavra termina em “-go” no masculino e “-ga” no feminino, substitui a desinência por “-gue”.

Exemplos:

* Amigo/a. → Amigue.

* Psicólogo/a. → Psicólogue.

Quando a palavra termina em “-r” no masculino e “-ra” no feminino, substitui a desinência por “-re”.

Quando no plural, termina em “-res” no masculino e “-ras” no feminino, troca-se a desinência por “-ries”.

Exemplos:

* Pintor/a. → Pintore.

* Pintores/as. → Pintories.

Quando a palavra termina em “-triz(es)” no feminino e “-r(es)” no masculino, substitui a desinência por “-re” no singular e “-ries” no plural.

Exemplos:

* Ator/Atriz. → Atore.

* Atores/Atrizes. → Atories.

Quando a palavra termina em “-ro(s)” no masculino e “-ra(s)” no feminino, substitui a desinência por “-re(s)”.

Exemplos:

* Giro/a. → Gire.

* Giros/as. → Gires.

Quando a palavra termina em “-ão” no masculino e “-ã” no feminino, substitui a desinência por “-ãe”.

No plural, quando termina em “-ãos” no masculino ou “-ãs” no feminino, substitui a desinência por “-ães”.

Exemplos:

* Órfão/Órfã. → Órfãe.

* Órfãos/Órfãs. → Órfães.

Toda “sílaba tónica” da palavra que contém til (~), mas que não é a sílaba que tem o til, ganha acento gráfico.

Como por exemplo, a palavra “órfã” que tem til e acento (´). Caso ao adaptar novas palavras para o neutro, se a sílaba que tiver o til se tornar a “sílaba tónica” da palavra, a acentuação gráfica anterior deixará de existir.

Exemplos:

* Cidadão/Cidadã. → Cidadãe.

* Cidadãos/Cidadãs. → Cidadães.

* Irmão/Irmã. → Irmãe.

* Irmãos/Irmãs. → Irmães.

No plural, quando termina em “-ões” no masculino ou “-ãs” no feminino, substitui a desinência por “-ães”.

Exemplos:

* Vilões/Vilãs. → Vilães.

* Campeões/Campeãs. → Campeães.

No plural, quando termina em “-ães” no masculino ou “-ãs” no feminino, substitui a desinência por “-ães”.

As palavras no masculino e neutro no plural serão distinguidas através de artigos e complementos. Por exemplo: “os capitães”, “ês capitães”, “capitães corajosos”, “capitães corajoses”.

Exemplos:

* Alemão/Alemã. → Alemãe.

* Alemães/Alemãs. → Alemães.

No português, há ainda palavras em que o plural possui diversas formas válidas. Aquelas que terminam em “-ãos”, “-ães” e “-ões” no masculino ou “-ãs” no feminino, substitui a desinência por “-ães”.

As palavras no masculino e neutro no plural que são semelhantes, serão também distinguidas através de artigos e complementos. Por exemplo: “os aldeães”, “ês aldeães”, “aldeães criativos”, “aldeães criatives”.

Exemplos:

* Ancião/Anciã. → Anciãe.

* Anciãos, Anciães e Anciões/Anciãs. → Anciães.

Quando a palavra termina em “-ão(-ões)” no masculino e “-a(s)” no feminino, substitui a desinência por “-ãe(s)”.

Exemplos:

* Ladrão/Ladra. → Ladrãe.

* Ladrões/Ladras. → Ladrães.

Quando a palavra termina em “-ão(-ões)” no masculino e “-oa(s)” no feminino, substitui a desinência por “-oe(s)”.

Exemplos:

* Patrão/Patroa. → Patroe.

* Patrões/Patroas. → Patroes.

Quando a palavra termina em “-ão” no masculino e “-ona” no feminino, substitui a desinência por “-one”.

Exemplos:

* Lindão/Lindona. → Lindone.

Quando a palavra termina em “-ão” no masculino e “-esa” no feminino, substitui a desinência por “-ese”.

Exemplos:

* Barão/Baronesa. → Baronese.

Quando a palavra termina em “-e” no masculino e “-esa” no feminino, substitui a desinência por “-ese”.

Exemplos:

* Duque/Duquesa. → Duquese.

Quando a palavra termina em “-ês(-eses)” no masculino e “-esa(s)” no feminino, substitui a desinência por “-ese(ies)”.

Exemplos:

* Português/Portuguesa. → Portuguese.

* Portugueses/Portuguesas. → Portuguesies.

Quando a palavra termina em “-e” no masculino e “-essa” no feminino, substitui a desinência por “-esse”.

Exemplos:

* Conde/Condessa. → Condesse.

Quando a palavra termina em “-e” no masculino e “-a” no feminino, substitui a desinência por “-ie”.

Algumas palavras terminadas em “-e” já são neutras em género, e servem para todas as pessoas, mesmo que exista uma variação opcional para o feminino. Para essas palavras, a terminação neutra “-ie” também é opcional.

Exemplos:

* Chefe/Chefa. → Chefie.

* Presidente/Presidenta. → Presidentie.

* Mestre/Mestra.Mestrie.

* Patife/Patifa. → Patifie.

Quando a palavra termina em “-eo” no masculino e “-ea” no feminino, substitui a desinência por “-ie”.

Exemplos:

* Conterrâneo/Conterrânea. → Conterrânie.

* Gémeo/Gémea. → Gémie.

Quando a palavra termina em “-a” no masculino e “-isa” no feminino, substitui a desinência por “-ise”.

Exemplos:

* Profeta/Profetisa. → Profetise.

Quando a palavra termina em “-e” no masculino e “-isa” no feminino, substitui a desinência por “-ise”.

Exemplos:

* Sacerdote/Sacerdotisa. → Sacerdotise.

Quando a palavra termina em “-iz(-ízes)” no masculino e “-íza(s)” no feminino, substitui a desinência por “-íze(ies)”.

Exemplos:

* Juiz/Juíza. → Juíze.

* Juízes/Juízas. → Juízies.

Quando a palavra termina em “-eu” no masculino e “-eia” no feminino, substitui a desinência por “-eie”.

Exemplos:

* Europeu/Europeia. → Europeie.

* Ateu/Ateia. → Ateie.

E quando a palavra com termina em “-om” no masculino e “-onete” no feminino, substitui a desinência por “-one”.

Exemplos:

* Garçon/Garçonete. → Garçone.

Quando a palavra termina em “-us” no masculino e “-usa” no feminino, substitui a desinência por “-use”.

No plural, quando termina em “-uses” no masculino e “-usas” no feminino, substitui a desinência por “-usies”.

Exemplos:

Deus/Deusa. → Deuse.

Deuses/Deusas. → Deusies.

Quando a palavra termina em “-i” no masculino e “-ína” no feminino, substitui a desinência por “-íne”.

Exemplos:

* Herói/Heroína. → Heroíne.

Quando a palavra termina em “-u” no masculino e “-ua” no feminino, substitui a desinência por “-ue”.

Exemplos:

* Nu/Nua. → Nue.

Substituição dos artigos definidos “a(s)” e “o(s)” pelo artigo definido neutro “ê” no singular e “es” no plural.

O uso do artigo “ê” com acento circunflexo (^) na grafia é essencial para diferenciá-lo da conjunção “e”, seja na forma visual ou sonora. A conjunção “e” possui som de “í” na pronúncia. E o artigo definido “ê” não pode ter som de “í” em hipótese alguma, e sim o som de “ẽ”.
O acento diferencia visualmente o que é a conjunção “e” e o que é artigo “ê”.

Exemplos:

* O empregado de mesa anotou o teu pedido? → Ê empregade de mesa anotou o teu pedido?

* Os colegas já chegaram. → Es colegas já chegaram.

Substituição das contrações (preposição + artigo) “da(s)” e “do(s)” por “de(s)”.

Exemplos:

* Esse chupa-chupa é do Rio. → Esse chupa-chupa é de Rio.

* As sapatilhas são dos meninos. → As sapatilhas são des meninos.

Substituição das contrações “dum(ns)” e “duma(s)” por “dume(s)”.

Exemplos:

* Consegui o número duma amiga. → Consegui o número dume amigue.

* A peça é duns alunos do 2.º ano. → A peça é dumes alunes do 2.º ano.

Substituição das contrações (preposição + artigo) “na(s)” e “no(s)” por “ne(s)”.

Exemplos:

* A borboleta pousou no jardineiro. → A borboleta pousou ne jardineire.

* Atiraram água nos modelos. → Atiraram água nes modelos.

Substituição das contrações “num(ns)” e “numa(s)” por “nume(s)”.

Exemplos:

* A tinta caiu num cliente. → A tinta caiu nume cliente.

* Colaram os autocolantes numas concorrentes. → Colaram os autocolantes numes concorrentes.

Substituição das contrações (preposição + artigo) “pela(s)” e “pelo(s)” por “pele(s)”.

A preposição “pele” pronuncia-se como “pê-le”, diferente da palavra “pele” (tecido corporal) que se pronuncia como “pé-le”.

Exemplos:

* Descobri isso pela presidente. → Descobri isso pele presidente.

* Pelos irmãos eu faço de tudo. → Peles irmães eu faço de tudo.

Substituição das contrações (preposição + artigo) “à(s)” e “ao(s)” por “ae(s)”.

Nota: “Ae(s)” possuí pronúncia de “ái(s)”.

Exemplos:

* Fizeram uma homenagem ao professor. → Fizeram uma homenagem ae professore.

* Envia a lista de convidados ao cantor. → Envia a lista de convidades ae/para ê cantore.

Substituição dos pronomes possessivos “meu(s)” ou “minha(s)” pelo pronome neutro “minhe(s)”.

Exemplos:

* A minha prima é cantora. → Ê minhe prime é cantore.

* O meu namorado já está aqui. → Ê minhe namorade já está aqui.

Substituição dos pronomes possessivos “seu(s)” ou “sua(s)” pelo pronome neutro “sue(s)”.

Exemplos:

* Qual o nome do seu parceiro? → Qual o nome de sue parceire?

* Partilhe com as suas amigas! → Partilhe com es sues amigues!

Substituição dos pronomes possessivos “teu(s)” ou “tua(s)” pelo pronome neutro “tue(s)”.

Exemplos:

* O teu professor deu-me aula. → Ê tue professore deu-me aula.

* Elas são as tuas irmãs? → Elus são es tues irmães?

Substituição dos pronomes possessivos “nosso(s)” ou “nossa(s)” pelo pronome neutro “nosse(s)”.

Exemplos:

* A nossa tia é bué criativa. → Ê nosse tie é bué criative.

* Contei para todos os nossos amigos. → Contei para todes es nosses amigues.

Substituição dos pronomes possessivos “vosso(s)”ou “vossa(s)” pelo pronome neutro “vosse(s)”.

Exemplos:

* Ele é vosso amigo. → Elu é vosse amigue.

* Quem são os vossos representantes? → Quem são es vosses representantes?

Substituição dos pronomes pessoais oblíquos “-a(s)” ou “-o(s)” pelo pronome neutro “-e(s)”.

Exemplos:

* Eu apenas beijou-a na cara. → Eu apenas beijou-e na cara.

* Vi-os rapidamente. → Vi-es rapidamente.

Substituição dos pronomes pessoais oblíquos “-no(s)”, “-na(s)”, “-lo(s)” ou “-la(s)” pelos pronomes neutros “-ne(s)” e “-le(s)”.

Os pronomes “-no(s)”, “-na(s)” e “-ne(s)” aparecerem após verbos terminados com a letra “m”.

Exemplos:

* Nós vamos amá-la com qualquer corpo. → Nós vamos amá-le com qualquer corpo.

* Vou avisá-los sobre isto. → Vou avisá-les sobre isto.

Substituição dos pronomes demonstrativos “essa(s)”, “esse(s)”, “esta(s)” e “este(s)” pelos pronomes neutros “essu(s)” e “estu(s)”.

Pronuncia-se como “êssu”, e “êstu”.

Exemplos:

* Essa aqui é a minha sobrinha. → Essu aqui é ê minhe sobrinhe.

* Este colega vai acompanhar-te até ali. → Estu colega vai acompanhar-te até ali.

Substituição das contrações (preposição + pronome) “dessa(s)”, “desse(s)”, “desta(s)” e “deste(s)” por “dessu(s)” e “destu(s)”.

Pronuncia-se como “déssu” ou “dêssu”, e “déstu” ou “dêstu”, semelhantemente aos pronomes “essu” e “estu”.

Exemplos:

* É deste menino que eu gostava na escola. → É destu menine que eu gostava na escola.

* As fotos destas amigas são inspiradoras. → As fotos destus amigues são inspiradoras.

Substituição das contrações (preposição + pronome) “daquela(s)” ou “daquele(s)” por “daquelu(s)”.

Pronuncia-se como “daquélu” ou “daquêlu”, semelhantemente ao pronome “aquelu”.

Exemplos:

* A caneta é daquela colega. → A caneta é daquelu colega.

* Lembrei daqueles colegas da turma. → Lembrei daquelus colegas da turma.

Substituição das contrações (preposição + pronome) “nessa(s)”, “nesse(s)”, “nesta(s)” e “neste(s)” por “nessu(s)” e “nestu(s)”.

Pronuncia-se como “nêssu”, e “nêstu”, semelhantemente aos pronomes “essu” e “estu”.

Exemplos:

* Eu fiz um penteado nesta menina. → Eu fiz um penteado nestu menine.

* Vou ficar de olho nestes alunos. → Vou ficar de olho nestus alunes.

Substituição das contrações (preposição + pronome) “naquela(s)” ou “naquele(s)” por “naquelu(s)”.

Pronuncia-se como “naquêlu”, semelhantemente ao pronome “aquelu”.

Exemplos:

* Eu tatuei algo naquela amiga. → Eu tatuei algo naquelu amigue.

* O galho caiu naqueles artistas. → O galho caiu naquelus artistas.

Substituição dos pronomes demonstrativos “mesmo(s)” e “mesma(s)” pelo pronome neutro “mesme(s)”.

Exemplos:

* Eu mesmo contei-te aquilo. → Eu mesme contei-te aquilo.

* Elas mesmas que fizeram a festa. → Elus mesmes que fizeram a festa.

Substituição dos pronomes demonstrativos “própria(s)”, “próprio(s)” pelo pronome neutro “próprie(s)”.

Exemplos:

* Convidaram o próprio. → Convidaram ê próprie.

* As próprias responsáveis não sabem o código. → Es própries responsáveis não sabem o código.

Substituição dos pronomes indefinidos “outro(s)” ou “outra(s)” pelo pronome neutro “outre(s)”.

Exemplos:

* Outro motorista bateu o carro. → Outre motorista bateu o carro.

* Comecei a seguir outras parceiras. → Comecei a seguir outres parceires.

Substituição dos pronomes indefinidos “quanto(s)” ou “quanta(s)” pelo pronome neutro “quante(s)”.

Exemplos:

* Quantos ignorantes naquele lugar. → Quantes ignorantes naquele lugar.

* Quantas colegas lindas aqui! → Quantes colegas lindes aqui!

Substituição dos pronomes indefinidos “tanto(s)” ou “tanta(s)” pelo pronome neutro “tante(s)”.

Exemplos:

* Já recebi mensagens de tantos desconhecidos. → Já recebi mensagens de tantes desconhecides.

* Cumprimentei tantos convidados! → Cumprimentei tantes convidades!

Substituição dos pronomes indefinidos “todo(s)” ou “toda(s)” pelo pronome neutro “tode(s)”.

Exemplos:

* Ela estava toda animada ontem. → Elu estava tode animade ontem.
* Todos eles merecem acessibilidade. → Todes elus merecem acessibilidade.

Substituição dos pronomes indefinidos “vários” ou “várias” pelo pronome neutro “váries”.

Exemplos:

* Várias cientistas alertaram sobre a pandemia. → Váries cientistas alertaram sobre a pandemia.

* Tem várias colegas aqui. → Tem váries colegas aqui.

Substituição dos pronomes indefinidos “muito(s)” ou “muita(s)” pelo pronome neutro “muite(s)”.

Exemplos:

* Existem muitos educadores atrasados no assunto. → Existem muites educadories atrasades no assunto.

* A receita foi elogiada por muitos cozinheiros. → A receita foi elogiada por muites cozinheires.

Substituição dos pronomes indefinidos “pouco(s)” ou “pouca(s)” pelo pronome neutro “pouque(s)”.

Exemplos:

* Conheço poucos guitarristas que tocam piano. → Conheço pouques guitarristas que tocam piano.

* Convidaram poucas pianistas para o evento. → Convidaram pouques pianistas para o evento.

Substituição dos pronomes indefinidos “algum(ns)” ou “alguma(s)” pelo pronome neutro “algume(s)”.

Exemplos:

* Algum amigo presente? → Algume amigue presente?

* Alguma das suas netas gosta de mim? → Algume des sues netes gosta de mim?

Substituição dos pronomes indefinidos “nenhum(ns)” ou “nenhuma(s)” pelo pronome neutro “nenhume(s)”.

Exemplos:

* Não gostei de nenhum deles. → Não gostei de nenhume delus.

* Nenhuma das tuas tias vai? → Nenhume des tues ties vai?

Substituição dos numerais “ambos” ou “ambas” pelo numeral neutro “ambes”.

Exemplos:

* Ambas sujaram-se de lama. → Ambes sujaram-se de lama.

* Escolhi ambos os candidatos para o cargo. → Escolhi ambes es candidates para o cargo.

Substituição dos numerais “um(ns)”, “uma(s)”, “dois” e “duas” pelos numerais neutros “ume(s)” e “dues”.

Exemplos:

* As minhas duas tias chegaram. → Es minhes dues ties chegaram.

* Isso depende de cada um de nós. → Isso depende de cada ume de nós.

Quando a palavra termina em “-oso” no masculino e “-osa” no feminino, substitui a desinência por “-ose”.

Pronuncia-se a desinência como “-ôse”.

Exemplos:

* Atencioso/Atenciosa. → Atenciose.

* Nervoso/Nervosa. → Nervose.

* Poderoso/Poderosa. → Poderose.

* Maravilhoso/Maravilhosa. → Maravilhose.

Quando a palavra termina em “-ço” no masculino e “-ça” no feminino, substitui a desinência por “-ce”. Gravada sem a cedilha.

Se atente para não confundir. O correto é “-ce” e não “-çe”. Na língua portuguesa, nunca é usado o cê-cedilha antes das vogais “e” e “i”. Se usa o cê-cedilha apenas antes das vogais “a”, “o” e “u”.

Exemplos:

Suíço/a. → Suíce.

Substituições neutras para termos “biformes” fora do padrão:

Termos “biformes” são aqueles termos (substantivos, adjetivos, etc.) que apresentam duas formas diferentes em relação ao género (atualmente, podendo ser feminino ou masculino). Possuem o mesmo “radical”, porém se diferenciam quando se troca a “desinência”.

“Radical” é a parte principal da palavra, aquela que carrega o significado. Muitas vezes, se encontra no início, antes da “desinência” (“menin-”, “amig-”, “cidad-”, “trabalhad-”, etc.).

Obs.: Para alguns termos, a nomenclatura “biforme” na gramática, pode no futuro ser atualizada para “triforme” (três formas de género: feminino, masculino e neutro).

Exemplos:

* Bom/Boa. → Boe.

* Mau/Má. → Mále.

* Avó/Avô. → Avôe.

* Réu/Ré. → Réie.

* Príncipe/Princesa. → Príncise.

* Monge/Monja. → Mongie.

* Rapaz/Rapariga. → Raparigue.

Substituições neutras para substantivos “heterónimos”:

Substantivos “heterónimos” são aqueles termos que apresentam formas diferentes em relação ao género, porém não possuem o mesmo “radical”.

Exemplos:

* Homem/Mulher. → Pessoa.

* Mãe/Pai. → Nãe (alternativa formal: figura parental).

* Madrinha/Padrinho. → Nadrinhe.

* Madrasta/Padrasto. → Nadraste.

* Maternidade/Paternidade. → Parentalidade.

* Maternal/Paternal. → Parental.

* Rei/Rainha. → Reinhe.

Alguns exemplos incluem soluções por meio de formas neutras já existentes na língua, enquanto outros por meio da neolinguagem, tornando assim necessária a criação de adaptações, havendo ainda termos para os quais tais adaptações ainda não foram encontradas. No entanto, isso não é impossível. É uma questão de tempo e reflexão extensiva. E essa será uma resolução entre ativistas, linguistas e outras pessoas.

Adjetivos e complementos permanecem no mesmo género gramatical “do sujeito”.

Se o sujeito for de género gramatical feminino, os seus complementos serão femininos e se for masculino, estes serão masculinos. Se o sujeito for de “género gramatical neutro” (ou seja, com o “Sistema Elu” aplicado), os seus complementos serão neutros. Ao ser indeterminado (quando não se sabe qual é), pode questioná-lo, ou usar complementos de “género neutro”.

Exemplos:

* “Todas prontas”.

* “Todes prontes”.

* “Todos prontos”.

Exemplo de erros: “todos prontes”, “todas prontes”, “todes prontas”, etc.

* A menina. → A menina linda.

* Ê menine. → Ê menine linde.

* O menino. → O menino lindo.

Exemplo de erros: “a menina linde”, “ê menine lindo”, “o menino linde”, etc.

* Ela. → Ela é gira.

* Ele. → Ele é giro.

* Elu. → Elu é gire.

Exemplo de erros: “ela é gire”, “ele é gire”, “elu é giro”, etc.

* Você (sujeito de género feminino). → Você está linda.

* Você (sujeito de género masculino). → Você está lindo.

* Você (sujeito de género neutro). → Você está linde.

* Você (sujeito de género indeterminado). → Você está linde.

Substantivos uniformes “sobrecomuns” (de apenas um género) recebem complementos no mesmo género.

Substantivos “uniformes” são aqueles termos que apresentam uma única forma para sujeitos de todos os géneros. “Sobrecomuns” são aqueles termos “uniformes” que possuem um único género e apresentam a mesma forma para todos os sujeitos.

Exemplos:

* Pessoa (substantivo feminino). → Pessoa famosa.

* Indivíduo (substantivo masculino). → Indivíduo famoso.

* Comunidade (substantivo feminino). → Comunidade famosa.

* Coletivo (substantivo masculino). → Coletivo famoso.

Exemplo de erros: “pessoa famose”, “indivíduo famose”, “comunidade famose”, etc.

Substantivos uniformes “sobrecomuns” (de apenas um género) não são neutralizáveis.

Exemplos:

* Indivíduo. → Indivíduo.

* Criança. → Criança.

Exemplo de erros: “indivídue”, “criançe”, etc.

Essa escrita informal banaliza uma enorme estrutura de regras gramaticais que foram desenvolvidas ao longo do tempo e induz as pessoas ao erro.

Este texto foi estruturado a partir do guia original de Ophelia Cassiano, tendo sido adaptado para a variante do português de Portugal e removido conteúdo do original de forma a encurtar o guia, juntamente com outras edições minoritárias. Convida-se vivamente a leitura do texto original.

A evolução é um movimento constante. O conteúdo aqui descrito se encontra aberto a críticas, alterações e acréscimos futuros para acompanhar as pautas sociais.

Link encurtado para partilha:

www.is.gd/sistemaelu

--

--

Pedro Valente (ele)

Ativista LGBTI+ 🏳️‍🌈, pelos direitos humanos e inclusão. Técnico de apoio psicossocial. Estudante de Sociologia.